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O efeito do Tarifaço americano no Sul de Minas Gerais

Em 2024, 53  das  155 cidades do Sul de Minas Gerais exportaram para os Estados Unidos, somando um total de US$1.120.251.033. Desse valor, o café em grão respondeu por impressionantes US$1.027.180.326 — o equivalente a 91,69% das exportações para o país.

Na sequência do ranking, destacam-se os transformadores elétricos e os grandes maquinários, que ocupam o segundo e o terceiro lugares em valor exportado.

Entre os municípios, três se sobressaíram por destinar 100% de suas exportações aos EUA em 2024: Cruzília (com queijos), Senador José Bento (com café) e Delfinópolis (com banana). Botelhos também merece destaque: 99,6% de suas exportações de café tiveram como destino os Estados Unidos.

Já os grandes exportadores de café da região apresentam uma maior diversificação de mercados. Para esses municípios, os EUA representam apenas uma parte das vendas externas: Guaxupé (27,2%), Alfenas (20,5%) e Varginha (14,8%).

Apesar dessa diversificação de clientes, a eventual perda das exportações para os EUA poderia representar impactos anuais significativos para Guaxupé (US$ 410.456.633,00), Alfenas (US$ 130.126.150,00) e Varginha (US$ 290.403.228,00). No entanto, os dados de 2025 (janeiro a junho) mostram que a região já atingiu 70,61% do valor exportado em todo o ano de 2024. Parte desse resultado se deve à alta do dólar e à comercialização antecipada por parte de exportadores, motivada pelo anúncio do tarifaço.

Algumas cidades já superaram os valores exportados no ano anterior:

  • Boa Esperança: +97,48%
  • Campestre: +388,26%
  • Machado: +38,13%
  • Nova Resende: +193,01%
  • Paraguaçu: +364,32%
  • Poços de Caldas: +21,59%

Os líderes de exportação Guaxupé, Varginha e Alfenas atingiram, até junho de 2025, respectivamente: 66,06%, 81,94% e 64,61% do valor exportado em 2024. Andradas também se destacou, saltando de US$110.480,00 em 2024 para US$6.600.365,00 até o momento em 2025.

Das 53 cidades exportadoras em 2024, 44 voltaram a exportar para os Estados Unidos em 2025 (até junho), e três novas cidades passaram a exportar: Cambuí, Gonçalves e Inconfidentes. Seis cidades não voltaram a comercializar com o país, até o momento.

Produtos exportados pelos municípios do Sul de Minas em 2024:

  • Açúcares de cana
  • Aparelhos elétricos de iluminação
  • Artigos de transporte
  • Banana
  • Bulldozers, angledozers, niveladoras
  • Café
  • Cobertores e malhas
  • Fios, cabos e outros condutores
  • Iates e outros barcos
  • Instrumentos e aparelhos para medicina
  • Lingerie
  • Máquinas de ordenhar
  • Minérios e alumínio
  • Obras de tripa
  • Outras chapas e folhas de plástico
  • Outros calçados
  • Outros móveis e suas partes
  • Outros papéis, cartões e pasta de celulose
  • Óxidos de manganês
  • Partes de máquinas e aparelhos
  • Partes e acessórios de veículos
  • Pedras para calcetar
  • Quadros e painéis elétricos
  • Quartzo
  • Queijos
  • Tapetes de matérias têxteis
  • Transformadores elétricos

O olhar atento para as características econômicas de cada município evidencia suas potencialidades produtivas. Machado e Varginha, por exemplo, lideram as exportações baseadas no café em grão — uma commodity de baixo valor agregado, que exige grandes volumes para gerar receitas significativas. Guaxupé abriga a Cooxupé, uma das maiores cooperativas agrícolas do país. Já Varginha conta com o Porto Seco Sul de Minas e uma ampla cadeia de serviços “depois da porteira”, com estrutura para armazenagem, transporte e comercialização do café.

Apesar dos números impressionantes de exportações dessas duas cidades, elas não figuram entre as de maior crescimento econômico da região: Varginha é a 4ª e Guaxupé a 10ª colocada no PIB de 2021. As cidades que mais se destacam pelo PIB são Extrema (1ª) e Pouso Alegre (2ª), com pautas de exportação mais diversificadas e menor dependência de commodities.

Em 2024, Extrema exportou 22,40% do total para os EUA, principalmente com instrumentos e aparelhos para medicina. Até junho de 2025, já alcançou 95,56% desse valor, somando US$11.243.688,00. Pouso Alegre, por sua vez, destinou 33,30% de suas exportações aos EUA em 2024, com destaque para grandes maquinários. Em 2025, até junho, alcançou apenas 28,19% desse valor, totalizando US$3.483.667,00.

Diante desse panorama, percebe-se que o volume de exportações, por si só, não garante crescimento econômico local. É essencial analisar a capacidade de geração de empregos, os níveis salariais, os encadeamentos produtivos e os incentivos fiscais e creditícios disponíveis. Por exemplo, o setor cafeeiro (grão), por ser commodity, tem tributação mais branda do que a indústria de transformação e conta com acesso facilitado ao crédito por meio do Plano Safra.

Com a efetivação do tarifaço norte-americano, diversos compradores dos EUA suspenderam pedidos dias antes do decreto, temendo os efeitos da sobretaxa. No caso do Sul de Minas, o impacto é significativo, já que o café está entre os produtos atingidos, ao lado de frutas, carnes e pescados. Por outro lado, produtos como suco de laranja, minério e celulose ficaram de fora, por serem itens que os EUA não produzem em volume suficiente para atender ao mercado interno — porém, esses produtos não são representativos na pauta de exportações da nossa região.

O Governo Federal, o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) e outras entidades estão negociando a revisão do decreto e a inclusão do café na lista de produtos isentos da sobretaxa. Paralelamente, buscam novos mercados para absorver a oferta brasileira.

Este é o cenário atual dos 155 municípios do Sul de Minas Gerais, mas ele pode mudar a qualquer momento. Por isso, é fundamental que produtores, entidades e o setor público (nas esferas federal, estadual e municipal) acompanhem o mercado e busquem alternativas não apenas para atender à produção local, mas também para promover a diversificação da pauta exportadora. Para os empresários locais, exportadores, o caminho mais seguro está na diversificação de clientes, para outros países ou no mercado nacional.

Varginha, 04 de agosto de 2025

Fontes: Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e IBGE

 

Guilherme Vivaldi

Fundador do GEESUL

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